Gestão por quem gerencia e para quem gerencia

Este é o Blog do Professor e pesuisador Gabriel A. L. A. Castelo Branco.

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quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Intervindo em empresas

Nesses anos de consultoria atuando em empresas e entidades de portes diversos me deparei com situações inusitadas e necessidades de posturas também nada agradáveis.

Ouvia piadas sobre consultores contadas por colegas de profissão sobre o que leva uma empresa a contratar consultor. Segundo a anedota, contada o consultor é contratado para validar o erro que empresários e executivos cometem ou para encobrir algo. O que era apenas uma piada um dia aconteceu comigo.

Fui chamado por um empresário, dono de um empreendimento de porte mediano aos lhos da lei, com seu faturamento margeando os R$ 4 milhões anuais.

A empresa era de origem familiar, que havia sido deixada de herança pelo seu falecido pai para ele para seu irmão em condições de igualdade. Até aí tudo bem.

Adiantando a conversa, ele me relatou que tinha um processo de gestão transparente, focado em resultados e ao contrário do seu irmão, estava sempre presente na empresa e que era uma pessoa altamente comprometida com o empreendimento. Até aí tudo bem, ainda.

Foi quando veio o objetivo de por que havia me chamado. Ele necessitava confeccionar um relatório sobre o processo de gestão e queria um diagnóstico da empresa evidenciando a situação geral do empreendimento. Na verdade ele queria uma auditoria na empresa. Imediatamente questionei por que necessitava daquilo.

A resposta que me foi dada era de que como a empresa havia sido herdada em condições de igualdade, cinqüenta por cento para cada irmão, e que como só ele conduzia o negócio, o seu irmão necessitava ser informado da regularidade do empreendimento.

O cenário havia se desenhado em minha mente: irmão desconfia de irmão, e eu, o consultor externo, vou avaliar a situação e garantir de que vai tudo bem na gestão do empreendimento.

Ele terminou sua exposição fazendo uma oferta de honorários pelos serviços extremamente interessante para mim. Fazendo minhas contas, cobriria os custos do meu escritório por no mínimo seis meses. Perfeito, pensava comigo mesmo.

Na semana seguinte iniciei os serviços de levantamento de informações e verificação na empresa.

Como por hábito, iniciei o diagnóstico pelas funções financeiras e de pessoal.

Foi quando logo de entrada já identifiquei algo estranho no ar. Não foi preciso sequer esforço ou uso de alguma técnica arrojada. Estava estampado ali nos relatórios financeiros do seu sistema uma seqüencia saques e de transferências sem discriminação alguma, sempre em valores muito próximos e nos mesmos períodos esperados, semanais e mensais. Lembro que esses saques e movimentações suspeitas não guardavam qualquer vínculo com as movimentações relativas a "retirada de sócios", que eram sempre em montantes iguais e tendo como destino as contas específicas de pessoas físicas de cada irmão.

No dia seguinte, indaguei ao meu cliente sobre os lançamentos e o que estava identificando. Surpreso pela facilidade com que conseguia visualizar as informações, ele, de forma constrangida e sem o menor pudor foi me dizendo que se tratava de pagamentos de despesas pessoais e unilaterais dele, e que, por favor, não mostrasse aquilo nem para seu irmão nem para sua esposa. Foi então que o frágil pano caiu.

Naquele momento estava sendo informado pelo meu cliente de que o irmão dele desconfiava de que as retiradas não eram igualitárias. Ele, por outro lado, achava que merecia mais benefícios por estar à frente do empreendimento enquanto seu irmão se dedica a outras coisas. Problemas de sociedade em empresas familiares.

Foi aí que veio o pedido, em tom de ordem, para que eu desse um jeitinho de maquiar as contas, quem sabe sugerindo alguma técnica para que elas passassem despercebidas, insinuando que eu deveria validar e afirmar que as contas estavam em ordem. Disso dependia a manutenção de nosso contrato. Ou dava minha palavra de que estava tudo bem ou perderia o contrato.

Acho que não pensei dois segundos.

Me levantei, agradeci a oportunidade e disse que "infelizmente, por problemas de agendamento, não poderia tendê-lo". Agendamento? É, não consegui pensar em nada menos esfarrapado. Só queria sair daquele lugar o mais rápido possível. Depois pensado comigo mesmo, da próxima vez digo que esqueci um bolo no forno... sei lá.

Durante um tempo preferi nem pensar sobre isso.

Só que recentemente meu caminho cruzou com aquele sujeito novamente. Foi por intermédio de um conhecido em comum.

Esse conhecido perguntou se o conhecia, se sabia que a empresa dele é dono de uma das mais sérias empresas do ramo no entorno, que tinha grande conhecimento, de que era um grande empresário, da sua liderança no meio... e eu pensado comigo mesmo: ô, e como conheço...

Desabafo,

@castelodf

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